Versailles: um simples clone do Santana?

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Quando se fala a respeito do Versailles, a maioria das pessoas logo sentencia: “Um carro que não tinha personalidade”. Ou dizem: “É o Santana piorado, por isso é que não durou muito”. Não é bem assim. Realmente, o Versailles é muito mais VW do que alguns outros produtos da extinta Autolatina, tais como o Apollo, o Logus e o Pointer. Por isso preparamos um breve histórico sobre o irmão do Santana, e vamos mostrar a personalidade deste carro.

1991- O lançamento 

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O Versailles foi lançado em Julho de 1991 com a missão de substituir o já desgastado Del Rey. De linhas avançadas para a época e, ao mesmo tempo, sóbrias e elegantes, o Versailles era uma novidade por inteiro para os apreciadores da marca Ford. Sua plataforma era a mesma do Santana, que foi reestilizado em 1991, além disso, compartilhava com o modelo da Ford, a mecânica, algumas peças de acabamento e até mesmo a linha de montagem em São Bernardo do Campo - São Paulo. Inicialmente, era oferecidos apenas em 2 portas, nas versões GL e Ghia e as opções de motorização eram as seguintes: 

* GL: Motores AP-1800 e AP-2000 a álcool ou à gasolina
* Ghia: Motores AP-2000 (álcool ou gasolina) e AP-2000i (gasolina)

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Como opcionais, a versão Ghia oferecia câmbio automático, injeção eletrônica (Bosch LE-Jetronic) e pintura metálica ou perolizada, além de direção hidráulica, ar-condicionado, vidros e retrovisores elétricos, cinto de três pontos no banco traseiro e rádio toca-fitas com antena elétrica como itens de série. A versão GL 2.0 oferecia ar-condicionado e direção hidráulica. Mesmo se tratando de irmão gêmeo do Santana, o Versailles apresentava características próprias, entre elas:

* Rodas de alumínio na versão Ghia com raios mais estreitos;
* Tampa do porta-malas mais retilínea;
* Lanternas traseiras em formato de trapézio;
* Pisca dianteiro com lente branca e com formato diferenciado;
* Grade dianteira na cor do carro e em formato de lâmina;
* Colunas traseiras com acabamento em preto fosco, versão Ghia;
* Lentes brancas nos piscas dianteiros;
* Apoio de cabeça inteiriço, ao invés de vazado;
* Ausência de descanso braço central no banco traseiro, menos desconfortável no caso de um quinto passageiro;
* Painel de instrumentos com nova grafia e iluminação verde;
* Volante e Manopla do câmbio semelhante aos do Escort;
* Teclas de controle dos vidros elétricos à frente do console;
* Teclas de pisca-alerta, farol de neblina e desembaçador traseiro do lado esquerdo do volante.
* Porta objetos à frente do console;
* Revestimento com nova padronagem..

As modificações feitas pela Autolatina deram resultado. O Versailles ficou com um visual mais sisudo e comportado, lembrando um carro americano, enquanto o Santana ficou com um estilo jovem e europeu. Foram os produtos mais diferenciados que a Autolatina já teve, mas claro que como todo produto, havia seus pecados, como o desenho das portas, as maçanetas ainda utilizavam trincos, quebra-ventos e pinos de travamentos das portas.

1992 - A família aumenta

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Fevereiro - Lançado o Versailles 4 portas
Abril - Lançamento da Royale, com versões e motorizações iguais às do Versailles.

Curiosamente, a Royale foi lançada exclusivamente na versão 2 portas. Existem rumores que isso ocorreu por pressão da VW, já que a Quantum era oferecida somente com 4 portas e a Royale, por questão politíca, vinha somente com 2 portas para não invadir o mercado da Quantum, perdeu-se duas portas, mas a Ford ganhou a Royale. Mesmo com a opção da Ford fazê-la com 2 portas, já que as peruas antigas da marca sempre tiveram apenas 2 portas e fizeram sucesso e um público fiel, portanto estes proprietários iriam aderir a nova, com apelativos como: facilidade de dirigir, conforto, espaço, estabilidade e potência, tudo para evitar andar na contramão da modernidade.

Utilizando a mesma base que a Quantum, a Royale possuía a mesma capacidade de 695 litros em seu porta-malas, onde sua traseira adotava formas idênticas ao do Versailles, inclusive suas lanternas, só estava ausente o olho-de-gato posicionado acima da placa na versão sedan.

O ano de 1992 também foi marcado pela adoção de freios ABS (opcional) na versão Ghia e a inclusão do catalisador para se adequar às normas antipoluentes que passaram a vigorar nesse ano.  

1993 – As primeiras modificações

A injeção eletrônica passa a ser opcional também para a versão GL 2.0. As versões movidas à gasolina passam a contar com o carburador eletrônico. Novos botões do sistema de ventilação completaram as modificações. 

1994 – Mais requinte e luxo

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As novidades para este ano são as seguintes:

* Novos bancos dianteiros com regulagem lombar (opcionais na versão GL);
* Novos revestimentos internos;
* Teto solar com acionamento elétrico (opcional);
* Coluna de direção ajustável (opcional na versão GL);
* Rádio CD - Player (opcional na versão Ghia);
* Novas rodas de liga leve (opcionais na versão GL);
* Brake light;
* Alarme para farol aceso (Ghia);
* Desembaçador com temporizador;
* Indicador de porta aberta;
* Desligamento de faróis com retardo;
* Adoção da injeção eletrônica digital FIC monoponto para a versão GL 1.8 e FIC multiponto para as versões GL e Ghia equipadas com motor 2.0, tanto à gasolina como a álcool. A injeção Bosch LE-Jetronic analógica deixa de ser oferecida. Ar-condicionado e direção hidráulica também passam a ser disponíveis como opcionais na versão GL 1.8.

Curiosamente, o carburador eletrônico conviveu junto com a injeção eletrônica nos modelos 94, equipando tanto a versão GL como a versão Ghia, a álcool ou à gasolina.

1995 – Canibalismo

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Em 1995 o Versailles passou por um árduo período onde não possuía um futuro certo, mesmo com um bom índice de satisfação pós-venda o modelo sofreu uma leve "modernização". A versão Ghia passa a oferecer bancos e revestimentos em couro como opcionais, além de uma pequena reestilização no painel de instrumentos, adoção de um novo volante de 4 raios que finalmente pôs fim àquele volante horroroso de 2 raios, sendo mais condizente com o carro. Por fora poderia ser identificado pela  nova grade frontal com formato ovalado e os faróis de milha foram envoltos por uma moldura plástica na cor da carroceria. A traseira recebeu um aerofólio com brake-light embutido e a antiga moldura refletiva, que unia os dois conjuntos ópticos, desapareceu, dando o lugar a uma saliência horizontal na lataria, sobre a chapa. A antíquada faixa preta na coluna traseira foi aposentada por não agradar parte dos proprietários, assumiu a pintura normal, assim como a antena também sumiu, passando a ser equipado de uma antena com captação eletrônica, na verdade um filete de cobre, prensada entre as lâminas do pára-brisas.

A injeção eletrônica passa a equipar todas as versões, aposentando definitivamente o carburador, e por fim, a Royale passa a ser oferecida com 4 portas.

Mas, o Versailles passa a enfrentar um processo de canibalismo dentro da própria Ford, que foi causado pela chegada do Mondeo importado da Bélgica, que custava menos que um Versailles Ghia completo. O Mondeo tinha um projeto mais moderno e conquistou uma parte significativa dos consumidores do Versailles Ghia.

Na época, o dólar era cotado a R$ 0,85. Um Mondeo GLX 5 portas completo custava US$ 40.352,00 (R$ 34.297,00). Um Versailles Ghia 4 portas igualmente completo saia por R$ 38.668,00. Claro que o Versailles possui manutenção bem mais em conta do que o Mondeo, mas será mesmo que isso pesa para um consumidor que não pensa só em custo x benefício?

O status de possuir um carro importado passou a falar mais alto.

A Ford ainda tentou reposicionar o preço do Versailles e da Royale, com uma redução de até 15%, mas já era tarde, o fim iminente da Autolatina, a acirrada concorrência no segmento (Santana, Tempra, Vectra, Omega) e a chegada dos importados fizeram com que as chances da família Versailles continuar no mercado se tornasse cada vez menor. 

1996 – A despedida 

Sem modificações significativas em relação ao modelo 1995, foi o último ano de produção do Versailles e da Royale. 1996 também marcou o fim da Autolatina e, portanto, do acordo entre VW e Ford.  

Ter ou não ter um Versailles? 

Óbvio que, sendo proprietário de um Versailles, sou suspeito para opinar a respeito. De qualquer forma, é um excelente carro, com todas as qualidades mecânicas do Santana (robustez, facilidade de manutenção, preço das peças, etc.), de bom desempenho, confortável e agradável de se dirigir.

Algumas peças peculiares são difíceis para se encontrar (peças de acabamento, lanternas, etc.), mas nada que desestimule uma possível compra, porque mesmo sendo um carro fora de linha, é uma alternativa interessante de compra. Posso dizer que o Versailles possui até algumas vantagens em relação ao Santana, das quais enumero abaixo:

1 – Painel de construção mais robusta. O painel do Versailles não apresenta àquele problema de afundamento de teclas que costuma assombrar os donos de Santana;
2 – Um quesito um pouco subjetivo, mas que considero uma vantagem, é a iluminação do painel. De cor verde, é bem menos agressiva aos olhos;
3 – Tecidos dos bancos mais agradáveis ao toque, quando se compara um Versailles GL a um Santana CL ou GL;
4 – Console central de melhor qualidade e resistência;
5 – Menor preço em relação a um Santana do mesmo ano.

De forma alguma estou desmerecendo o excelente Santana (ainda tenho um). Aliás, não há como desmerecê-lo, já que ele cedeu a sua plataforma ao Versailles, e ainda pretendo comprar outro Santana para substituir o velho CL 2000 1988/89 aqui de casa. Comprar um outro Versailles também não está fora de cogitação.  


Por: Rogério Hayama - Edição: Lucas Toffoli Alcino e Ignácio Teixeira Montanha Marques